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OS ALICERCES DA INCLUSÃO: ÉTICA, AMOR E O PODER TRANSFORMADOR DA TECNOLOGIA

Updated: Nov 16


Naquele local, as diferenças se dissipavam.

Eu era apenas mais um atrás de um volante, um condutor como qualquer outro.

CADEIRANTE DIRIGINDO


Após dezessete meses de luta contra o INSS para conseguir a autorização para regressar ao trabalho depois de ter ficado paraplégico, a data tão esperada finalmente chegou.


Preso no trânsito caótico de São Paulo, eu irradiava alegria, algo que nunca imaginei ser possível em meio a um congestionamento.


Naquele local, as diferenças se dissipavam. Eu era apenas mais um atrás de um volante, um condutor como qualquer outro. Essa sensação de igualdade era extasiante para mim: o carro e o cenário me permitiam ser igual a todos, e todos me viam da mesma maneira.


A despeito dessa sensação, o receio do que estava por vir me deixava inseguro: Será que o mesmo acontecerá no trabalho? Como serei tratado? Com dó? Pena? Preconceito? Me relegarão a tarefas sem importância ou me respeitarão como um profissional competente?


Eu esperava que a minha deficiência não fosse o foco, mas sim as minhas capacidades e contribuições. Queria que a minha cadeira de rodas fosse vista apenas como uma ferramenta, assim como é um par de óculos.


No entanto, eu me questionava se essa bela experiência no trânsito se repetiria no ambiente corporativo. Excitação e apreensão competiam com as notícias que eu ouvia no rádio do carro. O medo crescia a cada quilômetro, a cada minuto. Cercado por motoristas impacientes, aproveitei para refletir: Se aqui, neste cenário inóspito, há igualdade, por que seria diferente no trabalho?


Baseado nisso, tracei um paralelo interessante que me revigorou. O carro, uma ferramenta assistiva, nivelava as diferenças, eliminando razões para distinções. Eu tenho tudo o que preciso para desempenhar as minhas funções como qualquer colega, pensei, a minha confiança crescendo. Lembrei-me do que aprendi durante os meus vinte e cinco meses com deficiência: Basta eu olhar para todos com confiança, e todos me verão como alguém forte e capaz.


Com o semáforo fechado, encarei o meu reflexo no espelho retrovisor e me encorajei: O mundo é o meu espelho. Ajustei a postura no banco, ergui o queixo e refleti: Se eu me vir como vítima, serei tratado como uma. Se eu me vir como insuficiente, serei preterido. Uma força emergiu em mim e eu me convenci: Sempre vou olhar para todos como alguém capaz de mover montanhas, e assim me verão.


O primeiro dia de trabalho da minha nova vida foi ótimo. Repleto de promessas positivas! Naquela noite, voltando para casa, percebi que eu estava me redescobrindo, e descobrindo um novo mundo. Cada palavra trocada com colegas do trabalho foi como um tijolo na construção de algo novo. Mas algo ainda parecia não se encaixar. Algo ainda parecia superficial e frágil.


Enquanto eu dirigia, como se estivesse em um túnel que me isolava da realidade, pensei nos diálogos no trabalho e refleti sobre os desafios da inclusão que impediam que as pessoas com deficiência vivessem plenamente, com autonomia e com dignidade. Questionava-me: O que impedia que houvesse espaços públicos e privados com boa acessibilidade para garantir equidade social? E por que ainda há dificuldade em tratar todos, absolutamente todos, com igualdade e respeito?


Essas perguntas me levavam a considerar quais seriam os pilares fundamentais que contribuíam para esse problema tão destrutivo numa sociedade.


Diversas respostas apareceram na minha mente, mas quatro elementos prenderam a minha atenção: educação, justiça, respeito e solidariedade.


Educação - não aquela acadêmica, mas aquela que está relacionada ao que se aprende dentro de casa, recebida no seio familiar, que inclui ensinamentos morais e éticos passados através de bons exemplos.


Justiça – não a justiça no sentido legal, mas principalmente aquela baseada nas regras sociais que a humanidade desenvolveu ao longo de milênios na busca por ordem social.


Respeito - ou a falta dele – que está interligado ao preconceito, à discriminação e à intolerância. Fatores que impedem que a potencialidade do outro seja vista, o que promove barreiras que extrapolam as físicas.


Solidariedade – aquela que permite que uma comunidade foque na unidade e na cooperação entre os seus membros, que promove ações coletivas em prol do bem-estar comum e suporte mútuo.


Imaginei, então, que esses quatro pilares formavam as paredes de uma casa, a qual representava a sociedade que eu havia acabado de idealizar. No teto dessa casa, sustentado por essas paredes, estava a inclusão. Quão felizes seriam os moradores dessa casa? Coloquei-me a sonhar.


Apesar do ânimo com tais respostas, concluí que elas não eram suficientes. As paredes precisavam de uma base sólida e eu me perguntei qual deveria ser o piso dessa casa. A resposta que me surgiu foi: o amor. O amor ao próximo, o amor Ágape. Sem amor, essas paredes não se sustentariam, e o teto da inclusão cairia.


Conduzindo através do túnel infinito, eu parecia estar numa outra dimensão. Conectado a algo maior, eu continuava com as minhas contemplações: mas uma casa segura precisa mais do que um piso, quatro paredes e um teto. Num relampejo de luz, lembrei-me do sermão da montanha de Jesus e da questão do alicerce: A casa está construída sobre areia ou sobre rocha?


Tive a certeza de que a diferença estava no alicerce sobre o qual a casa é edificada. Percebi que esse era um ponto primordial para a segurança dos habitantes deste lar. Se a fundação fosse de areia, mesmo com o piso do amor, as paredes não se sustentariam. Consequentemente, a inclusão desabaria e todos estariam fadados ao caos ocasionado pela desigualdade, intolerância e conflitos.


Então, qual é a rocha sobre a qual essa casa deve ser construída? Qual deve ser a sua sólida fundação? Constatei que essa fundação vinha se esfarelando e não era mais uma prioridade. Como o clarão silencioso de um relâmpago que ilumina a escuridão, a resposta veio clara: a base é a ética. Então, formulei o raciocínio: Com uma ética inabalável, a sociedade se torna um lar seguro. A ética é um valor universal que distingue o bom do mau, o justo do injusto, é a voz interna que promove a obediência ao que não é obrigatório. Com sólidos valores e princípios éticos a casa não cairá. Sobre a ética está o amor. Apoiados no amor, e suportados por ele, estão a educação, a justiça, o respeito e a solidariedade, que juntos sustentam a inclusão. Dessa forma a sociedade, protegida por todos os lados, é capaz de proporcionar um ambiente de plena dignidade a todos.


Mas desanimei-me com a pergunta que me ocorreu: Onde está o amor? Deduzi, e até mesmo desesperançoso, que a falta de ética o havia enfraquecido.


Ao chegar até aqui, talvez você se pergunte como resolver isso. Tenho refletido muito sobre isso, e a resposta que me vem é: Inteligência Artificial. Loucura? Pode parecer que sim, mas é com base nesta loucura sensata que estou dando vida a obra 2081 - XRAM.


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